12.6.07

CONVERSA NUM CHAT DO ORKUT ENTRE PORTADORES DE HEPATITE COM DIFICULDADE PARA RECEBER MEDICAMENTO.

UNIDOS PELA ANGÚSTIA ANTE O DESPREPARO E O DESCASO DO APARELHO ESTATAL.

Uma das pessoas que participavam de um Chat entre portadores de hepatite C nos enviou o conteúdo da conversa para que ajudássemos um portador de João Pessoa nas suas dificuldades de conseguir a medicação. Este já foi contactado.
Transcrevemos aqui o conteúdo do Chat , excluindo o nome das pessoas, pelo direito de não serem identificadas. Serve como mais um exemplo da situação de descaso a que se vêem submetidos os portadores de hepatite em vários estados brasileiros.

ATÉ QUANDO ISTO PERDURARÁ?

Acreditamos que as organizações do terceiro setor (Organizações da sociedade Civil) e os grupos de apoio, são a melhor forma de pressão para que estas e outras barbaridades não se perpetuem. A união dos portadores e de seus familiares em torno desta causa é fundamental. Cada estado brasileiro tem sua particularidade e os gestores argumentam passar por dificuldades diferentes e nem sempre comprováveis. É necessário agir de acordo com cada peculiaridade.

REPRODUÇÃO DE TRECHO DO CHAT

Falta de medicamento...
Eu pego os meus remédios na secretaria de saúde, como muitos aqui, mas já faz dois meses q nao tem o virasole, a sorte q eu tinha uma reserva, mas mesmo assim estou tomando 4 por dia, pq minha reserva tá acabando. Eu sou da Paraíba, vc´s tem esse tipo de problema nos seus estados????

15 Mai (2 dias atrás)
Infelizmente sim
Sim X, infelizmente este é um problema nacional. Aqui em SP pego os meus medicamentos na farmácia de Alto Custo do governo do estado e neste último mês faltou o ribavirina, eu não tinha reserva e graças a solidariedade da Sônia desta comunidade não fiquei sem tomar, agora já normalizou, mas sempre há a preocupação de não encontrar o medicamento. Isso porque temos esse direito garantido em lei.

15 Mai (2 dias atrás)
Ainda não passei por isso, mas há comentários da falta de medicamentos, que dizem ser uma lista bem grande. Essa semana vou buscar a ribavirina e o interferon para iniciar o 4º mês de tratamento e não o que me espera!

15 Mai (2 dias atrás)
Y , vc retira os medicamentos no posto do Glicério no centro de SP?
Eu retiro lá e há uns 4 meses sempre falta a ribavirina. Eles entregam alguns dias depois. Eu não fico sem tomar pq sempre tenho umas pílulas no pote quando retorno para retirar os remédios.

Bjs.

15 Mai (2 dias atrás)
Grupo Confiantes no Futuro de João Pessoa
Olá

Não sei o que aconteceu com a mensagem que postei hoje a tarde, sumiu ou eu mesma devo ter feito algo errado, mas caso desconheças a existência deste grupo em João Pessoa, Confiantes no Futuro, sugiro que entres em contato. Talvez eles possam te ajudar :)

Abraços

Hepatchê Vida - Grupo de Apoio a Portadores de Hepatite C e Familiares
Porto Alegre - RS

Seguem as informações:

http://www.confiantes-no-futuro.blogspot.com/

REUNIÕES MENSAIS DO GRUPO CONFIANTES NO FUTURO 2ª terça de cada mês das 19 às 20:30 horas Auditório D. Helder Câmara Rua Silvio Almeida 620, Espedicionários João Pessoa PB.

NOVO SERVIÇO DA ONG CONFIANTES NO FUTURO
DISQUE 83-99750402
NÓS TEREMOS MUITO PRAZER EM AJUDÁ-LO

Se você tem dúvidas e quer tirá-las com os nossos voluntários eles estarão disponíveis para atendê-lo nos horários comerciais.
Seus direitos de cidadão não estão sendo respeitados, falta medicação, exames? Quer saber onde testar para hepatite? Onde se vacinar? Como se prevenir? Quer se inscrever na ONG, ir para suas reuniões, trabalhar algumas horas como voluntário? Fazer alguma doação? Conhecer melhor o nosso trabalho?
Precisando de Apoio e Esclarecimento?
Não se acanhe de ligar!

15 Mai (2 dias atrás)
Falta de medicamento
Ah!

Esqueci de dizer que quando isso acontecer com vocês, procurem os grupos de apoio/ongs de hepatites das suas cidades/estados e denunciem!! No site www.hepato.com tem a relação de todos.

Uma de nossas tarefas é exercer o controle social :)
Muitas vezes enviamos para colegas de outros estados medicações para suprir alguma falta temporária. Foi o que aconteceu no ano passado no RS. Faltou ribavirina. O Vontade de Viver de Salvador e Solidários do Mato Grosso nos socorreram... Mas mesmo assim tivemos que ir para a mídia e Ministério Público Estadual, pois não havia condições de alcançar para todos :(

Mandem e-mail para o PNHV - Programa Nacional de Hepatites Virais pnhv@saude.gov.br aos cuidados da coordenadora, Dra. Gerusa Figueiredo, principalmente se for falta de interferon peguilado, porque a compra deste a partir de 2007 foi centralizada em Brasília, pelo Ministério da Saúde.

Quanto aos demais: interferon alfa e ribavirina é de competência dos estados a compra...

hepatche@yahoo.com.br e hepatchevida@yahoo.com.br
Fone de contato: 51 9121-1756

15 Mai (2 dias atrás)
Falta de medicamentos 2
No Hepatchê Vida sugerimos aos que nos procuram que "guardem" a medicação por 2 meses, até 3 meses, antes de iniciar o tratamento, pois no caso de falta, existirá uma "reserva técnica" e não precisarão interromper as medicações, o que poderá por em risco todo o tratamento até então :)


12:18 (11 horas atrás)
aki no ES, esta semana, o secretario estadual de saude foi preso por ser negligente na compra de medicamento contra cancer. era para uma criança de 5 anos, e ficaram alegando que ja tinham pedido ao laboratorio e que iria demorar uns dias. um juiz federal decretou a prisão dele e em menos de 3 horas o medicamento apareceu...
essa moda tem que pegar, soh assim as autoridades tomam vergonha na cara (será?) e levam a saude publica e os cidadãos a sério!!!!!

X
12:34 (11 horas atrás)
Espírito Santo também tem grupo :)
Sabias que existe um grupo aí? O Vitória pela Vida. (suprimido)
Encontras os dados no site do Otimismo, mas qualquer coisa é só pedir que passamos...

Abraços

Importante: fica claro que os dados aquí publicados não foram capturados por nenhum meio da internet e sim foram enviados por correspondencia eletrônica a este site. Não cabe qualquer dúvida sobre a integridade da privacidade do meio que as veiculou.

10.6.07

Como faço para receber meu filho que esteve durante 6 meses em uma fazenda de recuperação de drogas?

Após uma internação de longo prazo a pessoa fica isolada de seu ambiente social, interrompendo suas atividades e tendo pouca ou nenhuma oportunidade de treinar suas habilidades de lidar com as situações de risco e as "fissuras" do cotidiano. Será preciso ajudá-lo a retomar e ajustar sua rotina diária, uma vez que ele passou 6 meses afastado de seu cotidiano. No entanto, este é um momento muito importante, pois é justamente no contato com o mundo que seu filho poderá encontrar alternativas para alterar seu estilo de vida e enfrentar o mundo sem as drogas. Mais do que garantir a abstinência, tratar a dependência é buscar, com a pessoa, alternativas de vida, o que só poderá ser alcançado no seu contato com o mundo. Ela precisa aprender a viver sem as drogas. Apenas tirá-las deixa um vazio que precisa ser compreendido e preenchido. Muitas vezes, habilidades precisam ser aprendidas. Imagine um jovem que só sabe se relacionar com pessoas se tiver fumado maconha. Interromper o uso sem oferecer-lhe alternativas seria condená-lo ao isolamento. Todo aprendizado implica em erros, falhas. Hábitos requerem tempo e dedicação para serem modificados. Por fim, recomendamos que ele continue com algum acompanhamento por meio dos grupos de auto-ajuda ou em tratamento com uma equipe multidisciplinar que poderá lhe orientar e ajudá-lo nesta nova etapa de sua recuperação. Equipe do site Álcool e Drogas sem Distorção 22/07/2005
Após uma internação de longo prazo a pessoa fica isolada de seu ambiente social, interrompendo suas atividades e tendo pouca ou nenhuma oportunidade de treinar suas habilidades de lidar com as situações de risco e as "fissuras" do cotidiano. Será preciso ajudá-lo a retomar e ajustar sua rotina diária, uma vez que ele passou 6 meses afastado de seu cotidiano. No entanto, este é um momento muito importante, pois é justamente no contato com o mundo que seu filho poderá encontrar alternativas para alterar seu estilo de vida e enfrentar o mundo sem as drogas. Mais do que garantir a abstinência, tratar a dependência é buscar, com a pessoa, alternativas de vida, o que só poderá ser alcançado no seu contato com o mundo. Ela precisa aprender a viver sem as drogas. Apenas tirá-las deixa um vazio que precisa ser compreendido e preenchido. Muitas vezes, habilidades precisam ser aprendidas. Imagine um jovem que só sabe se relacionar com pessoas se tiver fumado maconha. Interromper o uso sem oferecer-lhe alternativas seria condená-lo ao isolamento. Todo aprendizado implica em erros, falhas. Hábitos requerem tempo e dedicação para serem modificados. Por fim, recomendamos que ele continue com algum acompanhamento por meio dos grupos de auto-ajuda ou em tratamento com uma equipe multidisciplinar que poderá lhe orientar e ajudá-lo nesta nova etapa de sua recuperação.

Equipe do site Álcool e Drogas sem Distorção 22/07/2005

Entrevista com Paulo Roberto Yog de Miranda Uchoa Secretário Nacional Antidrogas

Entrevista

Entrevista com Paulo Roberto Yog de Miranda Uchoa Secretário Nacional Antidrogas
Entrevista publicada em 11/09/2003

O que é a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD)?

A SENAD, vinculada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, é o órgão responsável pela coordenação e articulação da Política Nacional Antidrogas - PNAD, no que se refere à redução da demanda de drogas. Ainda, a SENAD desempenha o papel de secretaria executiva do Conselho Nacional Antidrogas - CONAD.
Cabe também à SENAD estimular, assessorar, orientar, acompanhar e avaliar a implantação desta política, integrando ações nas esferas do governo federal, estadual e municipal, bem como estimular a atuação da sociedade civil e a cooperação internacional no âmbito das políticas de drogas.

O senhor completou um ano e meio frente à SENAD. Fazendo um balanço, quais são as principais realizações da Secretaria durante esse período?

Poderíamos citar entre as ações realizadas por nossa Secretaria neste período, a implementação da Política Nacional Antidrogas - PNAD, a interação com os estados e municípios, a estruturação da Rede dos Conselhos Estaduais que, hoje, estão interligados, favorecendo a capilaridade dentro do território nacional e permitindo maior participação da sociedade nas ações de prevenção do uso indevido de drogas e no atendimento a usuários e dependentes, assim como a implantação do Observatório Brasileiro de Informações Sobre Drogas - OBID.
Desenvolvemos cursos a distância para profissionais e voluntários nas áreas de prevenção e tratamento, além de atualização de conhecimentos para membros dos Conselhos Estaduais e Municipais que atuam na redução da demanda de drogas e concluímos o "I Levantamento Domiciliar sobre Drogas Psicotrópicas no Brasil" abrangendo as 107 maiores cidades do país. Desenvolvido pelo CEBRID, este levantamento é uma importante referência sobre o consumo de drogas no país.
É importante enfatizar que a SENAD tem prestado importante apoio à realização de Encontros, Seminários, Fóruns e Congressos com vistas à mobilização da sociedade nas áreas de prevenção e tratamento do dependente químico.
Descentralizar as ações da PNAD ao nível municipal, por meio do estímulo à implantação de Conselhos Municipais Antidrogas (COMENs ou COMADs) e outras ações relacionadas, é uma das estratégias que norteiam o nosso trabalho.
Na área internacional, além da coordenação da participação do Brasil no processo anual de resposta aos indicadores do Mecanismo de Avaliação Multilateral - MEM da Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas-CICAD da Organização dos Estados Americanos - OEA, a SENAD desenvolveu importante Projeto-Piloto em Municípios Fronteiriços (em parceria com Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai), para aplicar e validar metodologia de condução de ações de redução da demanda no nível municipal e promover uma maior integração com os países vizinhos.
No que diz respeito ao Fundo nacional Antidrogas, a SENAD tem aprimorado os procedimentos de alienação de bens advindos do narcotráfico, através do estabelecimento de convênios entre o Ministério Público, Poder Judiciário e órgãos do Executivo de diversos estados brasileiros, descentralizando as ações e permitindo maior participação dos conveniados nos recursos auferidos.
A elaboração e distribuição, a nível nacional, de material educativo de primeira qualidade, com informações sobre o uso indevido de drogas, bem como o oferecimento de serviço gratuito de atendimento ao cidadão (0800 614321), na área de drogas, acredito que, também, devam ser mencionados.
A fim de dar cumprimento à estratégia do Sr Presidente Lula, contida em sua mensagem ao Congresso de 17 Fev deste ano, onde determina a integração das Políticas Públicas com a PNAD, é fundamental destacar, também, realização, em março deste ano, do "Seminário Nacional Novos Cenários para a Política Nacional Antidrogas". Esse Seminário permitiu identificar as áreas de convergência entre a PNAD e as políticas públicas governamentais, gerando como desdobramento a assinatura de protocolos com diversos órgãos do governo federal para a implantação de projetos, muitos dos quais já estão em andamento.

Quais as metas de curto, médio e longo prazo da SENAD para os próximos anos?

A curto prazo:
Reestruturação do Conselho Nacional Antidrogas - CONAD, ampliando a participação da sociedade civil;
Implementação dos protocolos assinados com os órgãos federais e organizações da sociedade civil, para o desenvolvimento de ações pelos Ministérios da Educação, do Trabalho e Emprego, da Saúde, da Defesa, da Assistência Social, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, entre outros;
Reestruturação do Serviço de Atendimento ao Público - 0800;
Ampliação do processo de descentralização das ações da PNAD nos municípios
A médio prazo:
Realização de um mapeamento das instituições que atuam no tratamento, na redução de danos e na reinserção social de usuários e dependentes de drogas, existentes no País;
I Levantamento Nacional sobre o uso de drogas por crianças e adolescentes em situação de rua, nas 27 capitais brasileiras;
Levantamento Nacional sobre o uso de drogas nas escolas de ensino fundamental e médio no Brasil, nas 27 capitais brasileiras;
Atualização das Cartilhas de Orientação ao Público;
Elaboração de um Glossário brasileiro de termos sobre drogas.
A longo prazo:Atualização da Política Nacional Antidrogas;

Em linhas gerais, quais as estratégias fundamentais que compõem uma política de drogas eficiente e abrangente?

Uma política de drogas deve considerar a realidade sócio-cultural da população, responder às suas necessidades, fundamentar-se em dados epidemiológicos e científicos atualizados e, acima de tudo, envolver todos os setores da sociedade no seu desenvolvimento, por meio de redes. Por fim, deve observar alinhamento com a Constituição Federal no que diz respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais de um Estado de Direito.
Há uma grande discussão no momento acerca a descriminalização do porte de pequenas quantidades de drogas ilícitas. Qual a sua opinião sobre o tema?
Nossa preocupação maior é reduzir o uso indevido de drogas, evitando os prejuízos pessoais e sociais a ele associados, numa perspectiva de saúde coletiva.
Neste sentido, não defendemos a legalização incondicional das substâncias, mesmo que isso significasse maior controle ou a desestigmatização de usuários.
A sociedade brasileira tem encontrado dificuldades para gerar políticas efetivas de controle para minimizar os danos causados pelas drogas legalizadas, como o álcool e o tabaco e isto nos leva a ver com reserva a liberação de outras substâncias, hoje proibidas.
Não considerar crime o uso ou o porte, para uso próprio, de substâncias de pequeno impacto na saúde coletiva, principalmente a maconha, nos parece, no entanto, uma medida benéfica. Nesses casos, seria mais útil para a sociedade se a penalização estivesse centrada em medidas administrativas de caráter social.

O senhor considera que existe relação entre o consumo de drogas e a violência?

Antes de mais nada é importante rejeitar a idéia de que o uso ou o tráfico de drogas é o maior responsável pela violência existente em nossa sociedade. Fatores de ordem macroeconômica e social são alguns dos principais determinantes deste problema.
Existem, no entanto, situações nas quais as drogas estão diretamente associadas a episódios de violência.
A principal delas refere-se aos problemas relacionados ao tráfico, às guerras entre facções, às questões de dinheiro envolvido, vinganças pessoais, eliminação de testemunhas e mesmo conflitos com a polícia.
Não são poucos também os episódios de violência causados por comportamentos motivados pela alteração de consciência devido ao consumo de drogas, destacando-se, neste caso, o abuso de bebidas alcoólicas.
Pesquisas revelam que o álcool está presente em grande parte de crimes e acidentes, tendo sido consumido tanto por aqueles que os provocaram como pelas vítimas.

Como a SENAD pode auxiliar organizações da sociedade civil sem fins lucrativos que atuam na prevenção e tratamento do uso de drogas, que necessitam de financiamento e/ou capacitação?

A missão da Senad não é ser um órgão financiador de ações de prevenção, tratamento e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, e sim de articulador de políticas e ações nesta área.É sua competência, no entanto, transferir recursos do Fundo Nacional Antidrogas para aplicação em Projetos considerados relevantes na implantação da Política Nacional Antidrogas.Podem solicitar subvenção social instituições públicas e privadas de caráter assistencial, sem fins lucrativos, que atuem nas áreas de prevenção, pesquisa, eventos, publicações, recuperação, tratamento e reinserção social de dependentes químicos.As solicitações são examinadas quanto ao tipo de projeto, aplicação dos recursos, documentação da instituição e verificação da disponibilidade de recursos financeiros.No que se refere à capacitação de profissionais, a Senad articula o desenvolvimento de cursos nos diferentes aspectos de sua atuação, alguns diretamente oferecidos aos interessados, outros em convênio com instituições públicas e privadas, em geral na modalidade à distância. Além disso, a Senad participa em reuniões, congressos, seminários e outros eventos nos quais tem a oportunidade de interagir com a comunidade científica, com os gestores das políticas públicas, com as instituições, com as organizações não governamentais e com o público em geral.

A orientação para o envio de pedidos de recursos e a divulgação dos cursos e eventos promovidos pela Senad encontram-se no nosso site: www.senad.gov.br

Fonte: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas)/Programa Álcool e Drogas (PAD) do Hospital Israelita Albert Einstein

Impacto social do abuso de álcool e economia da saúde.



Introdução


Entre os problemas de ordem biopsicossocial decorrentes do abuso e/ou dependência alcoólica, que afetam tanto o próprio usuário, quanto seus familiares estão sofrimento e complicações físicas e mentais, desemprego, violência e criminalidade, mortalidade, morbidade, entre outros. Todos estes problemas acarretam, significativamente, um elevado custo econômico para a sociedade. Pouco tem sido feito, portanto, para mensurar, quantitativamente, suas conseqüências em nosso país.Uma constatação da necessidade de ampliação desta discussão está no fato de que, atualmente, elementos fundamentais – como os custos indiretos - não estão sendo considerados nas estimativas de custos da dependência do álcool. Os custos indiretos atingem não só os abusadores/dependentes de álcool, mas também, como exemplo, seus empregadores, que podem ter elevados gastos com perda de produtividade relacionada às doenças, licenças médicas e com o próprio consumo de álcool durante o trabalho. Este artigo tem como objetivo principal introduzir e familiarizar os profissionais da saúde os conceitos fundamentais da economia da saúde (ES). Não obstante, visa também descrever alguns dados de pesquisa sobre o impacto do abuso de álcool na sociedade brasileira, com a pretensão de justificar a realização de pesquisas nacionais nesta área econômica.


Economia da saúde


A Economia da saúde (ES) procura aliar os conhecimentos adquiridos pela Medicina (segurança do procedimento, eficácia e efetividade da intervenção) ao conceito de eficiência - originado na Economia , com o objetivo de instrumentalizar os gestores de saúde em suas tomadas de decisão, principalmente quanto a um melhor aproveitamento de recursos frente às necessidades da sociedade. O conjunto dos estudos que utilizam estes conceitos pode ser chamado de Avaliação Econômica em Saúde (AE). A AE pode ser classificada como incompleta e completa. Na AE incompleta, temos os estudos do tipo "custo da doença" e "comparação de custos". A AE completa é o instrumento utilizado pela ES para a análise sistemática e comparativa de duas ou mais intervenções na área da saúde, considerando-se os custos e benefícios proporcionados. Diante da complexidade de seu objetivo, a AE completa deve ser vista sob três diferentes vertentes:


1) Custo-minimização é a análise realizada quando duas ou mais intervenções proporcionam o mesmo benefício, diferindo apenas em relação aos custos. Esta análise não é uma muito utilizada uma vez que é raro encontrarmos intervenções que apresentem os mesmos benefícios comprovados cientificamente.


2) Custo-efetividade, mais comumente encontrado na literatura, é utilizado quando as intervenções apresentam desfechos clínicos semelhantes, porém diferenciando-se não só quanto aos custos, mas também quanto à extensão dos efeitos esperados. Ex: um tratamento ambulatorial para alcoolismo que atinge um determinado índice de abstinência, comparado a uma nova intervenção agregada a este tratamento ambulatorial, gerando melhores índices de abstinência.


3) Custo-utility evidencia a preferência do indivíduo ou da sociedade por um estado de saúde ou desfechos específicos. O parâmetro mais comumente utilizado é o "Quality Adjusted Life Years - QALY" (sobrevida ajustada à qualidade de vida).


4) Custo-benefício: os resultados são estimados em valores monetários. Devido à dificuldade, complexidade e controvérsias em se valorar a vida humana e determinadas condições de saúde em termos monetários, ainda é uma análise raramente encontrada na literatura. É de fundamental importância para a AE a perspectiva sob a qual a análise de custos é feita. Baseia-se em quem irá arcar com os custos referentes ao programa estudado, além de definir quais serão os recursos (custos) incluídos para a análise. Exemplos de pontos de vista são: do paciente, da instituição de saúde, do Ministério da Saúde, ou, geralmente, da sociedade. Na perspectiva do paciente, por exemplo, são considerados os custos referentes às consultas (quando pagas por ele), ao transporte entre sua residência ou local de trabalho até o local de tratamento, retorno, entre outros. No entanto, a perspectiva da sociedade é a mais abrangente, pois considera todos os custos referentes ao programa, independente de quem irá pagar as despesas. Isto faz com que esta perspectiva seja considerada a mais apropriada para embasar as decisões tomadas na área da saúde.


Diferentes tipos de custos


Para melhor compreensão deste item, vale ressaltar que os termos recursos e custos são distintos, embora em todo recurso empregado incida um custo. Em uma AE completa, os custos podem ser classificados como diretos, indiretos e intangíveis:


1) Custos diretos: estão diretamente relacionados aos recursos oriundos da intervenção. São subdivididos em custos médico-hospitalares (custo de medicações, exames, internações, remuneração dos profissionais, consultas médicas e fisioterápicas, cirurgias, entre outros) e custos não médico-hospitalares (transporte de ida e volta ao tratamento, contratação de terceiros para auxílio no tratamento, entre outros).


2) Custos indiretos: não estão diretamente relacionados à intervenção. No entanto, podem gerar custos tanto para os pacientes e familiares, quanto para empregadores ou para sociedade (ex: a redução/falta de produtividade do usuário e/ou familiar, devido ao tempo despendido para participação no programa de saúde ou de doenças decorrentes).


3) Custos intangíveis: são os mais difíceis de serem medidos ou valorados, pois se referem ao custo do sofrimento físico e/ou psíquico. Dependem, unicamente, da percepção que o paciente tem sobre seus problemas de saúde e as conseqüências sociais, como o isolamento. Geralmente, estes custos não são inclusos nas análises de custos, visto que ainda existe grande controvérsia sobre a metodologia para obtenção dos mesmos.


O impacto social dos transtornos relacionados ao uso do álcool


No Brasil, entre os anos de 1970 e 1996, ocorreu um acréscimo de 74,53% no consumo do álcool. Estima-se que 11,2% da população brasileira seja dependente de álcool. Este índice, dividido por gênero, aponta a dependência em 17,1% da população masculina e 5,7% da população feminina. Quando analisamos a distribuição etária deste consumo: 41,2% de alunos dos ensinos fundamental e médio da rede pública, entre 10 e 12 anos, fizeram uso de álcool. O consumo de álcool pelos idosos também vem aumentando consideravelmente: 15% dos idosos que procuraram atendimento em determinado ambulatório de Geriatria na cidade de São Paulo apresentavam a condição de dependentes de álcool. No Brasil, o álcool é responsável por 85% das internações decorrentes do uso de drogas; 20% das internações em clínica geral e 50% das internações masculinas psiquiátricas. Somente entre os anos de 1995 e 1997, as internações decorrentes do uso abusivo e dependência de álcool e outras drogas geraram um gasto de 310 milhões de reais. Além disso, estudo realizado em Recife, Brasília, Curitiba e Salvador detectou índice de 61% de casos de alcoolemia em pessoas envolvidas em acidentes de trânsito. Visto que o aumento do consumo de álcool eleva também a gravidade dos problemas decorrentes, conseqüentemente, o custo social será maior.


Conclusões
Cada vez mais, a sociedade brasileira vem sentindo o impacto do custo social gerado pelo uso abusivo de álcool, ao mesmo tempo em que percebe que os investimentos realizados não estão conseguindo reduzir os problemas decorrentes, tais como criminalidade, acidentes, violência doméstica, absenteísmo, desemprego e outros. A razão para isso pode estar na má alocação dos recursos, uma vez que, no Brasil, ainda não existem parâmetros, baseados em evidências científicas, que sustentem uma correta tomada de decisão. Em alguns países desenvolvidos, onde também existe a preocupação com os custos sociais gerados pelo abuso e/ou dependência química, tal decisão vem sendo respaldada pela realização de estudos de AE nesta área. Resultados já obtidos por estes estudos demonstram a importância deste tipo de avaliação na tomada de decisão quanto à alocação de recursos em intervenções que possam vir a minimizar, de forma comprovadamente custo-efetiva, a incidência desses custos para a sociedade. Embora os dados obtidos sejam considerados válidos apenas para os países onde as pesquisas foram realizadas, alguns resultados serão demonstrados, de forma a realçar a importância da AE na DA. Entre outras constatações, já foi verificado que:


1) Intervenções de baixo custo podem ser tão efetivas quanto aquelas de custo mais elevado;


2) intervenções mais custo-efetivas nem sempre são mais baratas de serem implementadas;


3) o custo-efetividade de abordagens como a Entrevista Motivacional Breve é maior que em outras intervenções;


4) desfechos voltados para a saúde, com tratamentos psicossociais - incluindo Entrevista Motivacional e Treinamento de Habilidades Sociais – apresentam redução do custo social. O objetivo principal de estudos científicos que aliem a AE ao uso abusivo e/ou DA é propiciar o maior ganho de saúde possível, com a menor utilização dos escassos recursos destinados ao sistema saúde. 07/06/2007


Dados Bibliográficos:
Introductory concepts of health economics and the social impact of the alcohol misuse Rev. Bras. Psiquiatr. vol.28 no.4 São Paulo Dec. 2006 Edilaine MoraesGeraldo M CamposNeliana B FiglieRonaldo R LaranjeiraMarcos B Ferraz


Fonte: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas)/Programa Álcool e Drogas (PAD) do Hospital Israelita Albert Einstein.