22.6.07

Vacina para esquistossomose

25/07/2006
Minas Gerais testa vacina contra esquistossomose


REINALDO JOSÉ LOPES da Folha de São Paulo (22/07/2006)

Se tudo correr bem, uma das primeiras vacinas contra esquistossomose do mundo começará a ser testada em pacientes brasileiros no ano que vem. O projeto, resultado de uma parceria entre uma empresa mineira e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), já mostrou bons resultados em animais --os quais, aliás, também poderão se beneficiar.

É que se trata de uma vacina bivalente: sua ação também se estende à fasciolose, doença que afeta o gado e cujo parasita tem parentesco próximo com o culpado pela esquistossomose. Estima-se que os prejuízos causados pela fasciolose ao rebanho mundial fiquem em torno de US$ 3 bilhões anuais.

O dinheiro, é claro, não se compara ao sofrimento humano decorrente da esquistossomose: o problema afeta cerca de 200 milhões mundo afora. A vacina foi idealizada para prevenir a infecção pelo Schistosoma mansoni, verme que causa a doença na América Latina e na África.

"O importante é que, pela primeira vez, um país no qual essa doença é endêmica reúne a capacidade tecnológica para enfrentá-la", disse à Folha a médica Miriam Tendler, pesquisadora da Fiocruz.

A fundação detém patentes sobre a utilização de uma das proteínas do verme, a Sm14, como base para a vacina. Pelo acordo que viabilizou os testes, a empresa Alvos, em Belo Horizonte, obteve licença para avaliar a ação da Sm14 em animais. Segundo Eduardo Emrich Soares, diretor-executivo da Alvos, os ensaios já foram realizados em cerca de 20 carneiros e deverão prosseguir em mais 35 animais. Os bichos são afetados pela Fasciola hepatica, causadora da fasciolose, que ataca o fígado --daí o nome hepatica.

"Estamos buscando parceiros, como a OMS [Organização Mundial da Saúde], para aumentar a escala da produção e iniciar os testes em humanos no ano que vem", afirma Soares. Ainda não há vacinas disponíveis para nenhuma das doenças, embora um tipo de imunização contra a esquistossomose --visando outra espécie do parasita, o S. haematobium-- já esteja sendo testado em humanos.

"Achamos que há espaço para duas vacinas ou mesmo, no futuro, para uma vacina que combine as duas proteínas", avalia Soares, que também é diretor-presidente da Fundação Biominas, órgão onde a Alvos foi gestada.

Como toda vacina, a que usa a Sm14 tem como meta preparar o sistema de defesa do possível hospedeiro para que, caso ele seja invadido pelo parasita, possa responder à altura e evitar que o verme se instale.

No caso do S. mansoni, a proteína está presente na superfície do verme e também em seus órgãos internos. Seu papel está ligado ao metabolismo de lipídios (gorduras), que o parasita não produz sozinho e que precisa absorver passivamente do organismo do hospedeiro. A estratégia funciona bem contra esquistossomose e fasciolose por causa do parentesco entre os dois tipos de verme.

Fonte: REINALDO JOSÉ LOPES,

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