5.4.07

HEPATITE Informação é um ‘santo’ remédio para conter vírus.

O vírus da Hepatite (B e outras) deve ser combatido com remédios apropriados, mas campanhas preventivas, como a do Ministério da Saúde, são fundamentais

RICARDO CÉSAR GOYÁ

O carnaval brasileiro condiz com um cenário simbólico no imaginário popular no qual a folia e sensualidade são atores principais dessa peça. Porém, por trás de toda essa alegria e liberdade sexual existe alguns agentes que ocupam o papel de antagonistas dentro dessa trama, como as Doenças Sexualmente Transmissíveis. A Hepatite B tem se destacado como uma das que mais preocupam especialistas brasileiros e de todo o mundo. A notoriedade dessa doença se dá porque o número de casos de Hepatite B notificados aumenta a cada ano, principalmente pela desinformação sobre os efeitos, contágio e profilaxia dessa doença. Por mais que as propagandas do governo federal sejam voltadas, em média, à precaução da Aids, acidentes e drogas, há outras doenças perigosas que se propagam em grande escala. A indicação de especialistas de áreas da medicina preventiva, como epidemiologistas, infectologistas e hepatologistas, é de que a desinformação potencialize o aumento do contágio da doença. Atualmente, segundo dados do próprio Ministério da Saúde, há cerca de 2 milhões de portadores do vírus Hepatite B no país. Pesquisa do Instituto de Infectologia Emílio Ribas mostra que 76 por cento dos habitantes da maior cidade do país, São Paulo, não sabem “o que é” e “como se dá” a contaminação das hepatites virais, principalmente no que diz respeito ao contato sexual. Embora seja 20 vezes mais contagiosa do que a Aids, silenciosa (sem apresentações dos sintomas), somada à desinformação da população sobre o seu contágio, a doença é diagnosticada na maior parte das vezes em sua fase crônica, podendo causar sérios danos ao organismo como cirrose e câncer de fígado. Para discutir os problemas das hepatites e melhorar a assistência aos portadores da doença, o Ministério da Saúde pretende lançar o esperado Plano Nacional de Controle das Hepatites Virais na segunda quinzena de março. Criado em fevereiro de 2002, pela Portaria 263/02 do Ministério da Saúde, o plano busca desenvolver ações de prevenção e promoção da saúde, além de garantir o diagnóstico e o tratamento das hepatites virais. Mediante a esses propósitos, a coordenadora do Programa Nacional de Hepatite do Ministério da Saúde, Jerusa Maria Figueiredo, especialista em infectologia e epidemiologia, garante que a primeira ação dentro das diretrizes desse plano será o lançamento de uma campanha publicitária visando a conscientização da população sobre as hepatites virais. “As mensagens informando sobre ‘o que é’, ‘como se contrai’ e ‘como se previne’ serão veiculadas em jornais, revistas, emissoras de rádios em todo o país. A idéia é de que comecemos a sanar a desinformação das pessoas sobre os perigos dessa doença. Ou seja, definimos políticas públicas de prevenção.” O desconhecimento da doença e a subnotificação são evidentes e têm contribuído para o agravamento do quadro da doença e a morte de pacientes. Hoje, estima-se que cerca de 300 mil pessoas necessitem de tratamento, mas apenas 9 mil estão sendo tratadas pelo SUS, o que corresponde a somente 3 por cento dos que precisam de acompanhamento médico. Doença — A Hepatite B é uma doença infecciosa, sexualmente transmissível, que provoca inflamação no fígado. É causada pelo vírus HBV e também pode ser transmitida por via parenteral (durante a gestação) e perinatal (durante o parto), informa o professor da Faculdade de Medicina da UFG e especialista em hepatologia, Heitor Rosa. “Após a fase inflamatória, o vírus pode ser eliminado naturalmente do organismo ou causar uma doença inflamatória crônica que, após alguns anos, pode levar a complicações hepáticas como cirrose e câncer de fígado.” A palavra hepatite é originada do grego hepatitis, em que hepato significa fígado e itis inflamação. Dito de outra forma, hepatite designa qualquer degeneração do fígado por causas diversas, sendo as mais freqüentes as infecções pelos vírus tipo A, B e C e o abuso do consumo de álcool ou outras substâncias tóxicas (como alguns remédios). “Tanto o álcool quanto os vírus destroem as células hepáticas”, afirma Heitor Rosa. Normalmente, mesmo após essa destruição, o fígado consegue se regenerar, mas quando o processo é intenso deixa cicatrizes irreversíveis conhecidas como cirrose. Enquanto os vírus atacam o fígado quando parasitam suas células para a sua reprodução, a cirrose dos alcoólatras é causada pela ingestão freqüente de bebidas alcoólicas — uma vez no organismo, o etanol é metabolizado e transformado em ácidos nocivos às células hepáticas. Geralmente, após a infecção pelo HBV, os sintomas da Hepatite B demoram de 1 a 4 meses para aparecer. Esse prazo, porém, pode ser maior ou a doença tornar-se assintomática, ou seja, o portador do vírus da hepatite pode demorar anos para ter algum sintoma ou nunca vir a tê-los. Os principais sintomas na fase aguda são febre, dor nas articulações, náuseas, mal-estar e dor de cabeça. Em 20 ou 30 por cento dos casos pode surgir icterícia (pele amarelada) e colúria (urina escurecida), o que facilita o diagnóstico.
Walmar Ribas Júnior, farmacêutico: “Cadastrado, o paciente recebe mensalmente sua medicação”
Após cerca de seis meses, a fase aguda se resolve e o paciente pode ficar imune ao vírus e nunca mais ser infectado novamente ou pode ainda tornar-se portador assintomático (sem sintomas) do vírus. Neste caso, o paciente sofre danos em seu fígado e pode transmitir o vírus sexualmente ou através de seu sangue. Em alguns casos a infecção pode evoluir para uma hepatite crônica que provoca lesões no fígado como cirrose (cicatrização desorganizada do tecido hepático) e hepatocarcinoma (câncer hepático). O tratamento pode ser feito com interferon, uma substância antiviral produzida pelo organismo que pode eliminar o vírus HBV, que deve ser mantido durante 16 a 24 semanas e consiste na aplicação de injeções subcutâneas de interferon (na coxa ou abdômen) três vezes por semana. Em alguns casos, as injeções devem ser aplicadas diariamente. O tratamento é caro e pode gerar efeitos colaterais como febre, náusea, queda de cabelo e dor no corpo semelhante a dos quadros gripais. O uso prolongado de interferon (medicamento que modula, inibe a reprodução viral) pode provocar anemia, queda do número de plaquetas no sangue e depressão psicológica. Drogas como a lamivudina, inicialmente usada para o tratamento de Aids, e o tenofovir têm atividade contra o HBV e podem ser utilizadas para combater a Hepatite B. O governo federal conta hoje com um Programa de Medicação Excepcional que abrange mais de 100 itens, tratando de 50 patologias, inclusive as hepatites virais. A princípio o programa abrangia cerca de 5 mil pacientes portadores de doenças retrovirais em Goiás. Contudo, bons resultados foram aparecendo e o governo decidiu expandi-lo para o tratamento de epidemias, abrangendo hoje cerca de 28 mil pessoas. Dentro dessa política de inclusão social, medicamentos como o interferon e a lamivudina (medicamento fabricado pela Iquego, vendido a 2 reais 16 centavos) são comprados pelos Estados, que são ressarcidos pelo ministério em 50 por cento da contrapartida. “O panorama que notificamos é que todos os Estados da federação estão sobrecarregados com o custeio da metade do valor dos remédios”, diz o farmacêutico/bioquímico e diretor do Centro de Medicamento de Alto Custo (Cemac/Juarez Barbosa), Walmar Ribas Júnior. Em Goiás, o Centro de Medicamento de Alto Custo (Cemac) é um dos órgão do governo do Estado responsáveis pela distribuição de anti-retrovirais. Existem cadastrados hoje no Cemac da capital cerca de 120 pacientes que utilizam os remédios destinados ao combate dessa doença viral. No caso da Hepatite B, o paciente dentro da unidade é atendido em conformidade com os protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas estabelecidas pelo Ministério da Saúde. “Quando o paciente é encaminhado ao Centro por um infectologista e/ou hepatologista para o uso de medicamentos ao tratamento da Hepatite B, o Cemac avalia internamente a procedência do caso. Se tudo estiver de acordo com o protocolo normatizado pelo Ministério da Saúde, o paciente é cadastrado e recebe mensalmente sua medicação. Estamos acirrando a política de descentralização da saúde em Goiás. Abriremos um novo Cemac em Anápolis ainda este mês. A intenção, até o final do ano, é que as grandes cidades de regiões distintas do Estado, como Rio Verde e Itumbiara, tenham essa unidade de saúde”, informa o diretor. Prevenção — A vacina contra a Hepatite B faz parte do calendário oficial de vacinação preconizado pelo Ministério da Saúde e protege o indivíduo por toda a vida, informa a responsável pelo Programa Nacional de Hepatite B, Jeruza Maria Figueiredo. A primeira das três doses é aplicada logo após o nascimento e as demais após alguns meses de intervalo. Como a vacina passou a fazer parte do calendário recentemente, muitos adultos não foram vacinados e devem procurar um posto de saúde para recebê-la. “A imunização da fase adulta é necessária. Por meio disso, as pessoas criam anticorpos para defender o organismo contra o vírus da Hepatite B. Além disso, essa vacina é oferecida gratuitamente na rede pública de saúde”, diz o diretor do Cemac, Walmar Ribas Júnior. A prevenção ainda é a melhor medida para se imunizar da doença, completa Walmar. Uso de preservativos, número seleto de parceiros, não compartilhamento de agulhas são algumas das maneiras de se evitar o contágio da Hepatite B. “Mesmo com todas essas medidas de imunização e prevenção o número de casos no país não pára de crescer. As pessoas necessitam de informações sobre o que é e como é a doença”, diz. A mais conhecida e comum das hepatites é a do tipo A. Transmitida por água e alimentos contaminados, ou de uma pessoa para outra, a doença fica incubada entre dez e 50 dias. Esta infecção normalmente não causa sintomas, porém, quando presentes, os mais comuns são febre, pele e olhos amarelados, náusea e vômitos, mal-estar, desconforto abdominal, falta de apetite, urina escurecida e fezes esbranquiçadas. A detecção se faz por exame de sangue e não há tratamento específico, esperando-se o paciente reagir sozinho contra a doença — a letalidade não ultrapassa 0,1 por cento. “Existe vacina contra o vírus da hepatite A (HAV), mas a melhor maneira de evitá-la se dá pelo saneamento básico, tratamento adequado da água, alimentos bem cozidos e pelo ato de lavar sempre as mãos antes das refeições”, aconselha o diretor do Cemac. Os vírus da Hepatite tipo B (HBV) e C (HCV) são transmitidos sobretudo por meio do sangue. Usuários de drogas injetáveis e pacientes submetidos a material cirúrgico contaminado e não-descartável estão entre as maiores vítimas, daí o cuidado que se deve ter nas transfusões sangüíneas, no dentista, em sessões de depilação ou tatuagem. Com letalidade em torno de 1 por cento, o vírus da Hepatite B pode ser passado pelo contato sexual, reforçando a necessidade do uso de camisinha. “A transmissão sexual do vírus da hepatite C pode ocorrer, mas é rara”, diz o professor Heitor Rosa. Freqüentemente, os sinais das hepatites B e C podem não aparecer e grande parte dos infectados só acaba descobrindo que tem a doença após anos e muitas vezes, por acaso, em testes para esses vírus. Quando aparecem, os sintomas são muito similares ao da Hepatite A, mas, ao contrário desta, a B e a C podem evoluir para um quadro crônico e então para uma cirrose ou até câncer de fígado. “Isso vai depender muito do perfil de cada paciente: se ele faz uso de álcool, as chances aumentam, quanto mais jovem se contrair a hepatite B, mais chances se tem de se evoluir para a forma crônica — na Hepatite C, a situação é inversa”, diz o professor.

Enviado por Jorge Alves Forum Nacional de Hepatites

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